sexta-feira, 28 de maio de 2010

Nascença


Eu me lembro como se fosse ontem, uma escuridão em uma volta e meu corpo extremamente quente envolto de um liquido incompatível comigo. Eu não entendia absolutamente nada naquela hora, apenas que eu amava tudo aquilo. Então comecei a perceber o tamanho da gravidade que eu tinha me posto. Percebi que estava dentro de uma pessoa e que podia feri-la gravemente com um simples girar de corpo.
Não havia explicação praquilo tudo, nem o quanto eu também amava aquela pessoa que abandonara sua própria segurança por mim. Aquilo tudo é muito incoerente, só que o mesmo sentimento que eu sentia por ela eu também recebia aquela positividade. Algumas vezes eu conseguia ouvir sua voz doce combinando tal som com o leve balançar do vento. E eu podia ouvir tudo aquilo. Assim como percebi também que eu já carregava uma culpa, um fardo tão enorme antes mesmo de nascer. Foi quando eu comecei a perceber que meu corpo era desenvolvido de outra forma daquela estranha que me carregava eu era inexplicavelmente diferente.
Então tudo aquilo fez sentido quando eu realmente tive consciência de que o “culpado” era meu pai. Ele carregava este fardo e geneticamente a partir de algum momento eu também teria que carregar.
Durante meu sono, percebi que estava acontecendo alguma coisa de errado, uma pressão forte que surgia embaixo de mim, parecendo querer me expulsar do meu lar e querendo me tirar da minha protetora. Decidi então cooperar com tudo aquilo para poder não machucá-la, alem de que eu estava muito curioso para ver seu rosto. E se fosse como sua voz que eu conheci a algum tempo atrás ela seria a mais linda das pessoas.
Eu já estava tão exausto que meus olhos, ardendo em chamas, já se fechavam automaticamente. Mas prometi a mim que olharia meu amor primeiro, essa era a minha única prioridade pra aquele momento. Pouco em pouco tempo, uma claridade tomou conta de mim fazendo com que um ar entrasse e saísse de dentro do meu corpo exageradamente aquecido. Então pude ver com clareza o que eu tanto esperava aquela era a mais linda das espécies, eu desejava eternamente possuir suas características físicas, uma beleza indescritível.
Quando eu já estava adormecendo, depois de toda aquela confusão, já conseguia entender a língua deles e ouvi uma voz seca e grave dizendo “Este é o nosso filho, o mais lindo dos lobisomens e é só nosso”, então a voz suave da minha mãe cantarolando, me fez desabar em um sono profundo. E eu aguardava ansiosamente o dia seguinte.

 

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