Só agora eu fui perceber a verdade por trás disso tudo. Talvez eu tenha depositado todas as minhas esperanças em você, talvez eu tenha acreditado tanto e te amado tanto que me deixou cego diante o mundo.
Sei que não foi sua intenção. Sei também que você não quis que isso acontecesse. Talvez nem eu. Agora só me resta viver a escrever textos tristes sobre você, não por falta de tentativa. O que eu mais tentei foi fazer com que o destino se ajoelhasse diante de mim e dissesse que eu estava certo em acreditar em você e que nós teríamos um destino. Errado.
Quem sou eu para tentar alguma coisa dessa proporção? Um ninguém. De fato, eu me tornei um nada diante de ti, tentei elaborar e colaborar com teus caprichos e desejos, eu me deixava de lado fazendo isso por você. Agora não me importa mais, não só estou de joelhos ao destino como pedindo perdão a ele. Pois o destino provindo de Deus é único.
Não sei como ficará o futuro, não tentarei adivinhar nem mudar. Repetir o mesmo erro duas vezes já é burrice. Só nos restam as boas lembranças. Esperança? Quando se trata de nós dois, quem sabe?
Quem diria que um passeio comum traria uma confusão de sentimentos inexplicáveis que vai e vem sem sequer pedir nossa permissão.
Pois bem. Feliz estava eu caminhando meio que desajeitado sobre uma trilha de um parque botânico apreciando calmamente o balanço das arvores causado por um longo vento vindo do sul. Aquele tempo nublado já era comum na pequena cidadezinha de Glencoe, e já estava me dando nos nervos. O vento forte descia do topo do parque e chegava a mim causando aquele arrepio na alma, enquanto eu olhava fixamente para o lago observando o efeito com que a água se movia. Os pássaros mostravam uma felicidade tão contagiante que quando percebi, estava cantarolando uma de minhas musicas prediletas.
Diante daquele frio, resolvi voltar ao inicio da mata para me abrigar em algum lugar mais próximo. Após algumas passadas, alguns pingos gelados de água começaram a esbarrar em meu rosto de modo que minutos depois eu já estava encharcado. Subindo um pequeno morro de terra, minhas pernas mostravam sinais de cansaço. Então resolvi sentar ao lado de uma macieira silvestre, planta comum da região. Quando resolvi me sentar para pensar em algumas coisas que não havia feito naquela manhã, percebi que não fiz o que eu tinha planejado para aquela caminhada. Conversar com Deus.
Talvez eu não tivesse tanta obrigação de fazer aquilo pelo fato de que eu já tinha orado naquela manhã. Mesmo assim resolvi parar e repousar na terra úmida e fazer o planejado. Instantaneamente ajoelhei-me e comecei a orar, agradecendo e pedindo proteção a Deus.
Quando abri meus olhos, percebi que o tempo estava bem melhor. O sol brilhava como se estivesse sorrindo para o mundo, havia muitas flores coloridas que não estavam momentos antes e por mais incrível que pareça, o efeito que duas árvores extremamente altas faziam com a luz de modo que ela brilhasse em torno de mim, como um refletor direcionado para o ator principal de uma grande peça.
Eu sentia que não estava sozinho, mesmo nunca estando só por conta Dele em meu coração. Mas sentia, espiritualmente, que Ele estava ali. Sem vento algum, algumas folhas espalhadas pelo chão se movimentavam constantemente em minha direção. Quando finalmente aquilo tudo chegou perto de mim, cai com uma formicação no corpo inteiro que me fez cócegas durante um bom tempo, além dos arrepios constantes. Deus esteve ali, e mostrara Sua graça a mim.
As imagens do ocorrido vinham em minha cabeça a toda hora. Pensando nesse momento de contemplação, levantei da cama e a primeira palavra que me veio à cabeça era Amém.
Mais que amizade, irmandade.
Mais que amor simples, amor complexo.
Mais do que verdade, pureza.
Mais do que vida, eternidade.
Mais que brincadeiras, bobeiras.
Mais que inteligência, complexidade.
Defeitos e qualidades em comum,
quem disse que os iguais se repelem?
Somos a exceção da regra.
